"É um Deus muito exigente", conta professor especialista sobre a religião judaica

  • Por Jovem Pan
  • 31/03/2015 13h38
Amanda Garcia/Jovem Pan <p>Moré Nelson explicou os costumes da Páscoa judaica</p>

Moré Nelson, um dos maiores estudiosos do judaísmo no Brasil, esteve no programa Pânico no Rádio nesta terça-feira (31) para falar sobre a Páscoa judaica, data comemorativa que começa na sexta-feira no calendário judeu.

A história do judaísmo é contada da mesma forma que outras religiões, como o catolicismo e o islamismo, baseadas na Escritura Sagrada. O que muda é a forma de interpretação de cada uma delas. Algumas com mais detalhes que outras, exigindo maior tempo de estudo e dedicação. “O judeu estuda até o último dia da vida, e ele vive até 120 anos”, contou o professor teoricamente.

No judaísmo, Deus também criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo. A narrativa segue com Adão, Eva, a serpente, os filhos Caim e Abel e, dez gerações depois, Noé. A tentação de superar o poder divino continua presente desde o desrespeito às regras de Deus, como a desobediência de Adão ao comer o fruto proibido no Jardim do Éden.

“É um Deus muito exigente. Não tem argumentação, não é democrático. Mas tem que ser, senão a gente apronta”, concordou Moré Nelson, salientando que era nessa época que Deus estava estabelecendo as bases do judaísmo.

Mas, segundo o professor, é a partir de Abraão que a história judaica começa. “O Noé era um cara bom para sua época, mas Abraão tinha um ‘plus’, ele respeitava seus semelhantes. Isto o Noé não fez, por isso ele não é considerado o pai dos judeus. Abraão é o primeiro judeu”, disse.

A Páscoa para os judeus começa na sexta-feira à noite que antecede o domingo de Páscoa, data que representa a fuga dos judeus do Egito com Moisés. “Nós só somos considerados povo judeu depois da saída do Egito, que significa liberdade. Depois eles ficaram andando durante 40 anos no deserto porque eles tinham a ideia de que o povo que saiu do Egito só sabia ser escravo, então ficaria no deserto para morrer. E só os filhos que lá nascessem seriam levados adiante pra prosseguir com a religião”, explicou o professor.

E prosseguiu sobre o sentido da comemoração especial. “A comemoração dá ênfase à ideia de liberdade, criar minha família, criar meu povo, com justiça”. E na religião judaica é obrigação do ser humano continuar o trabalho de Deus. “É obrigado a casar e obrigado a ter filho. Pelo menos um casal”, contou.

O judaísmo, segundo Moré Nelson, está enraizado e tem mais influência no Brasil do que imaginamos. “Um terço de todo o Norte e Nordeste tem origem judaica. Todos eles têm algum costume judaico, mesmo sem saber”. O professor citou um exemplo: “Você pode chegar em uma casa no interior do Piauí e uma pessoa falar que não pode acender a luz da casa porque o costume veio da avó. Isso é de origem judaica”.

O ato de acender a luz à noite é uma das tarefas proibidas do judaísmo, dependendo do contexto. Para alcançar a inspiração e o descanso espiritual, a Torá (texto central do judaísmo) instituiu uma série de trabalhos, os quais os judeus são proibidos de fazer no Shabat, dia do descanso semanal. Portanto, acender a luz significa um trabalho por meio do qual se cria algo que não existia antes, como uma nova faísca de eletricidade.

“Se vem de Deus, faça. A explicação vai ser entendida ao longo da vida. E nem tudo vai ser possível entender”, concluiu o professor e especialista Moré Nelson.

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